Sonhei com uma história de amor. Uma história que começou durante o período da Inquisição e da caça às bruxas. E continuou noutra vida, na atualidade. Os detalhes do passado eram tão reais que resolvi fazer algumas pesquisas. Fiquei especialmente impressionado quando me informei sobre os dados históricos e eles confir- maram várias passagens do meu sonho.
O Reino de Granada existiu realmente. A Espanha só foi unificada pelos reis Fernando de Aragão e Isabel de Castela no final do século XV. Mesmo assim,até então era uma confederação de monarquias. Ainda hoje, algumas regiões da Espanha, embora submetidas ao governo central, possuem um certo grau de independência, com língua e administração próprias. Li bastante sobre bruxas. Muitas eram mulheres comuns, vítimas de maledicências e falsas acusações. Outras curavam doentes com ervas, sanavam braços e pernas partidos. Acusadas de pacto com o demónio, eram presas pelos agentes da Inquisição. As suas confissões eram extraídas sob torturas a cargo de um religioso. A Inquisição, como se sabe, foi implacável na Espanha antiga. Quando as supostas bruxas confessavam, eram queimadas na fogueira. Isto se não morressem antes, durante os interrogatórios. O romance com que sonhei despertou a minha intuição. Quando uma história surge na vida de um autor, esta ganha vida própria. Como a minha pesquisa original em África era sobre minas de diamantes, cheguei a descer 500 metros abaixo da terra, no campo de extração da De Beers, uma das principais empresas do mundo nesse mercado. Passei horas a percorrer as suas entranhas e a tentar encontrar um diamante – até porque, se algum visitante acha algum, a direção da companhia recompensa -o generosamente. Que ideia! O nosso guia trabalhou 24 anos debaixo do solo. Nunca achou um que fosse. Os diamantes são muito difíceis de encontrar. Já que estava em África, resolvi ver um pouco mais. Caminhos e coincidências surpreendentes levaram -me ao mundo dos leões. Pessoalmente, sempre fui um feliz proprietário de gatos e cães. Tenho um encanto especial pela maneira de sentir dos animais. Não só dos domésticos. Os selvagens atraem -me profundamente, por serem capazes de amar e proteger os seus companheiros e filhotes. Também se ligam aos seres humanos, em muitos casos dando demonstrações de fidelidade impressionantes. Ali, em África,conheci um rapaz que criava leões. Eram oito, a quem ele deu biberão desde bebés. Agora, entrava no espaço onde fi cavam confinados e brincava com eles como se fossem cachorrinhos, usando apenas luvas de couro para se proteger das mordidelas e patadas. Por mais carinhoso que seja, um leão é sempre um leão! Era uma intimidade impressionante. Não posso negar, o rapaz cheirava como um leão. Nunca enfi ei o nariz na juba de um leão para ter a certeza. Mas o cheiro deve ser bem parecido. O sonho ainda pairava sobre mim. Os leões agregaram -se à história de forma natural, como se fossem um pedaço perdido da trama que eu precisava de encontrar. Sei que todo este processo é muito misterioso. A minha mente criou tudo enquanto eu dormia durante a viagem de avião? Ou a história foi “sussurrada” por um ser imaterial? Realmente, não sei o que aconteceu. Para mim é um mistério. Só sei que este livro tinha de ser escrito.
Walcyr Carrasco
Sem comentários:
Enviar um comentário