Antes de explicarmos porque é que o yoga é uma solução tão eficaz na promoção de um
envelhecimento saudável, precisamos de determinar o que queremos significar com a
palavra «yoga». Afinal, o yoga significa coisas diferentes para pessoas diferentes. Muitos
americanos, incluindo médicos que recomendam yoga aos seus pacientes, acham que o
yoga consiste apenas em «fazer alongamentos». De facto, quando a Nina começou a ter
aulas de yoga, não fazia ideia do que era. Quando um dos seus colegas numa empresa de
software lhe disse que a mulher dele dava umas «aulas de ginástica» no local de trabalho,
decidiu que valia a pena experimentar. Na primeira aula, quando estavam todos prontos
para fazer ginástica com a roupa de treino, a instrutora pediu -lhes que começassem com
a «Postura da Montanha», com os dedos grandes dos pés juntos e os joelhos ligeiramente
afastados. Permanecer naquela posição soube -lhe tão bem que a Nina pensou: «O que
quer que isto seja, definitivamente é o indicado para mim!» A experiência de se apaixonar
pela prática dos asanas (a prática de posturas físicas), sem saber nada sobre todos os outros
aspetos do yoga, é de facto muito comum.
Na verdade, o yoga enquanto conjunto de exercícios físicos é apenas uma pequena parte
de uma tradição muito mais vasta, e uma evolução muito recente na sua longa história.
Embora o yoga tenha quase certamente milhares de anos de História, aquilo que os yogues
faziam em tempos idos nada tinha que ver com a Postura da Árvore ou a Saudação ao Sol.
Os primeiros yogues prosseguiam uma senda espiritual, tendo como meta o entendimento
das verdades últimas da realidade em que vivemos. De forma a alcançarem esta aspiração,
desenvolveram práticas, incluindo a meditação e o pranayama (controlo da respiração),
que lhes permitiram concentrar -se e libertar a mente de distrações.
Embora os primeiros yogues fossem da religião hindu e tivessem como propósito alcançar
a «união com o divino», as técnicas de yoga que desenvolveram para serenar a mente
eram tão eficazes e os seus ensinamentos acerca da natureza dos fenómenos mentais e das
causas do sofrimento humano tão profundos, que o yoga foi adotado por outras religiões,
incluindo o budismo, o jainismo e o sikhismo. (E, como sabemos, hoje em dia há pessoas
de muitas outras religiões, ou até sem religião, que praticam yoga.) O texto clássico do yoga
escrito entre 500 e 400 a.C., o Bhagavad Gita, define o yoga da seguinte maneira:
O Yoga é a constância da mente – uma paz sempiterna
Naturalmente, à medida que o yoga se difundiu pelo Oriente e entre povos muitos
diversos, sofreu numerosas evoluções. O yoga acabou por ser codificado por Patanjali,
entre 150 e 200 d.C., com a escrita de Os Sutras de Yoga, um texto que atualmente ainda
é considerado uma referência. Contudo, a escola de yoga que, em breves traços, iremos
aqui descrever foi apenas uma das muitas que existiram ao longo dessa era.
Só com o aparecimento do tantra e do hatha yoga (aproximadamente entre 800 e 900
d.C.) é que diversas práticas físicas, incluindo as posturas de yoga, se tornaram aspetos
essenciais do yoga. Ainda assim, embora o Hatha Yoga Pradipika (1200 -1300 d.C.) mencione
a existência de 84 posturas, ou asanas, apenas atribui um nome a 15 delas. O objetivo
da prática destas posturas era preparar o yogue para que fosse capaz de permanecer
confortavelmente, em meditação, por longos intervalos de tempo.
De facto, foi só no século xx que figuras marcantes como T. K. V. Krishnamacharya ou
B. K. S. Iyengar sistematizaram as posturas do yoga moderno tal como as conhecemos hoje
em dia. Estes professores expandiram de forma consciente o repertório das posturas tradicionais,
incorporando técnicas da ginástica inglesa e chinesa, sequências de preparação
física europeias e das artes marciais indianas nas posturas clássicas do hatha yoga. Também
introduziram o uso de acessórios de apoio às posturas, com o objetivo de tornar o yoga
acessível ao comum dos mortais, e adaptaram -nas de modo que tivessem uma função terapêutica
em certos problemas de saúde. (Se ficou desapontado por os asanas modernos
terem sido basicamente inventados no início do século xx, detenha -se por um momento e
atente na genialidade destes professores: o sistema que conceberam provou ser tão eficaz
e salutar, que se difundiu por todo o mundo.) Durante este período, para muitos praticantes
no Ocidente, o yoga foi -se desassociando da sua vertente espiritual e a prática dos asanas
foi adotada exclusivamente como um conjunto sistemático de exercícios físicos.
Tentar abranger milhares de anos de História do yoga em breves parágrafos implica,
é claro, simplificá -la consideravelmente. Mas podemos encarar a questão da seguinte
forma: o yoga é um conjunto de técnicas e conceitos provenientes tanto da Índia antiga
como da Índia contemporânea, que lhe permitem cuidar do corpo, bem como da alma.
A primeira vez que o Baxter experimentou fazer yoga ainda trabalhava como médico
de família num consultório bastante movimentado. Nessa altura era uma pessoa com a
típica «mente irrequieta», constantemente a rever mentalmente e a preocupar -se com as
decisões que tinha de tomar no trabalho, para lidar com as crises agudas do presente
imediato, ou com o planeamento dos próximos desafios, a curto e a longo prazo. Embora
a prática de yoga fosse um verdadeiro teste ao seu corpo rígido e pouco flexível, na verdade,
foi o efeito da Postura de Relaxamento que mais o surpreendeu. A sua mente
ocupada, desassossegada e sempre a tecer planos para o futuro conseguiu finalmente
deter -se, nem que por breves instantes. Quando terminou o relaxamento e se voltou a
sentar, sentiu um profundo e muito bem -vindo sentimento de paz e tranquilidade, que
raras vezes conseguia vivenciar. Acabara de descobrir uma prática que satisfazia a necessidade
de estar ativo fisicamente, mas também de revigorar a mente e o espírito!
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