Tardes de Outono.
Leituras do autor Mário Mendes de Moura, do seu livro de memórias Na Poeira do Tempo.
Neste vídeo o autor lê trechos da crónica O Voo do Milhafre. Uma belíssima crónica sobre Monsaraz.
...“Na tarde cai suavemente uma cortina ténue de azuis-escuros, como que lançada pelas asas das andorinhas que descrevem enigmáticas parábolas nos seus voos velozes. O silêncio vem de mansinho encontrar a solidão naquele canto, bastião da muralha milenar e soberana sobre o vale. Fico a olhar a melancolia do vale embelezado agora pela luz dourada do lento anoitecer. Os sinos da igreja da aldeia repicam fracos, espalhando nódoas mais escuras no espaço amarelado.
Pelo arco da muralha, a entrada lateral, entram vultos difusos – são os que nasceram e viveram nos últimos dois mil anos nesta aldeia medieval, tosca e sedutora. Silenciosos, lentos, mas decididos a rever aquelas pedras negras que tantas vezes pisaram no quotidiano, que os abrigaram das intempéries, que tão discreta e pacientemente escutaram os seus gemidos de amor e das dores. Não estão os que, apesar de aqui nascidos, morreram nos Brasis, nas Áfricas, por outros mundos estranhos, hostis e longínquos. É um exército sem oficiais, sem bandeiras, sem fanfarras. Entra no povoado e espalha-se pelas escassas ruelas. Em breve transformam-se em sombras difusas que se derramam pelas paredes, escorrem pelas gastas lajes do chão, penduram-se nos beirais preguiçosamente. Riem baixinho. Alguns[…]”
Excerto de: Mário Mendes de Moura. “Na Poeira do Tempo”.
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