A palestrante e autora brasileira Heloísa Capelas, que é uma especialista de renome mundial nos domínios do Autoconhecimentoe Inteligência Comportamental, veio recentemente a Portugal para fazer a apresentação do seu primeiro livro, que foi publicado em 2014, tanto no Brasil (pela Editora Gente) como por cá (pela Editora O Castor de Papel).
O Mapa da Felicidade, que consoante a autora é um livro «direcionado para pessoas de todas as idades e classes», foi o mote para esta entrevista, mas outros assuntos ligados ao desenvolvimento pessoal foram também abordados, como por exemplo: como lidar com o medo, a raiva e a infelicidade.
A terapeuta familiar especializada em Reeducação Emocional, reconhecida pela sua habilidade de abordar conteúdos complexos com extrema assertividade e simplicidade, falou também sobre um método revolucionário que a fez mudar a forma como via a vida, há mais de trinta anos, e que está na base das palestras e cursos que administra.
Aceita este desafio e lê esta entrevista que Heloísa Capelas gentilmente concedeu para este blogue.
Texto: Miguel Pestana
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Quem é a Heloísa Capelas? Fale um pouco sobre si.
Eu sou especialista em Autoconhecimento e Inteligência Comportamental. Há cerca de trinta anos, trabalho com desenvolvimento humano e aplico cursos com a metodologia Hoffman, considerada pela Universidade Harvard como um dos trabalhos mais eficazes de mudança de paradigmas. Também atuo como conferencista e sou autora do livro O Mapa da Felicidade.
Pelo título do seu livro podemos presumir que sem orientação as pessoas não conseguem chegar à felicidade. Assim é?
Na realidade, todas as pessoas buscam a felicidade. É um desejo inerente ao ser humano. Porém, muitas delas não sabem bem como ou o que fazer, até porque não definiram, previamente, o que significa felicidade para elas. Além disso, é muito comum a ideia de que a felicidade estará ao final de um caminho, quando, na realidade, ela deve se fazer presente ao longo da trajetória. Por isso, a ideia do meu livro é oferecer contribuição e informação às pessoas que se veem confrontadas por questões que, com frequência, tornam-se impeditivas da felicidade.
Roberto Shinyashiki (autor de Louco por Viver, Editora O Castor de Papel, 2015), que assina o prefácio da obra, afirma que a felicidade é uma escolha. Há quem decida ser infeliz?
Sim. Inconscientemente, são muitas as pessoas que escolhem a infelicidade. Isso acontece por muitos motivos, mas, essencialmente, a falta de autoconhecimento é o principal fator por detrás disso. Quem não conhece a si mesmo, muitas vezes, não consegue sequer perceber que faz escolhas que geram tristeza, angústia, medo e tantas outras emoções negativas. Apenas vive e sobrevive em meio a essas sensações acreditando que “não há outra forma de ser”.
O livro é direcionado para que tipo de público?
O livro é direcionado para pessoas de todas as idades e classes. E isso é realmente interessante! Outro dia mesmo, recebi um depoimento de uma leitora de apenas 14 anos, que me contava o quanto a obra estava lhe ajudando no processo de amadurecimento. Isso sem falar dos senhores e senhoras que me escrevem dizendo que conseguiram dar uma guinada em suas vidas após a leitura. Fico imensamente grata cada vez que recebo um relato como esse!
São várias as páginas que a Heloísa dedica ao tema do autoconhecimento. Para haver grandes transformações as pessoas têm de ultrapassar vários obstáculos nas suas vidas; essa é a única exigência do processo de autoconhecimento?
O processo de Autoconhecimento requer que você se veja com honestidade, sem autocrítica ou julgamento excessivos. A autorresponsabilização pelas próprias escolhas e ações é de extrema importância para que se possa, primeiramente, verificar o que pode e deve ser aprimorado e, em seguida, colocar tais mudanças em prática. Os obstáculos sempre vão aparecer ao longo do caminho – muitas vezes, inclusive, colocados por nós mesmos. Superá-los requer consciência de si mesmo e positividade. É a positividade quem nos faz lidar com as dificuldades, com aceitação e presença.
Diz-se que se não perdoarmos, ficamos prisioneiros da pessoa que nos fez mal. No capítulo 9 de O Mapa da Felicidade a Heloísa faz-nos reflectir sobre isso mesmo. Qual o conselho que dá para quem estiver a ler esta entrevista e que tenha ressentimentos por alguém?
Ter competência para perdoar é uma questão de inteligência por um simples motivo: a habilidade de absolver influencia o seu bem-estar. E, como efeito cascata, auxilia a gerar novas decisões e comportamentos, além de promover maior abertura para a criatividade, em suma, para gerar novos pontos de vista e ideias. A ação de perdoar é tão sua quanto a raiva que você sente e as mágoas que você guarda. Logo, não é possível seguir em frente sem praticar o perdão, que será a principal chave para a conquista de uma revolução pessoal.
Como podemos lidar com a raiva acumulada e o que pode despoletar no nosso organismo e saúde, se não extravasarmos todo o rancor para fora?
Antes de mais nada, quero lhe dizer que a raiva pode e vai aflorar em diversas situações da sua vida. Em outras palavras, é impossível evitá-la. Mais que isso, quero lembrar que todos nós temos, em comum, o fato de que experimentamos essa sensação pela primeira vez ainda na infância. O que muda é que, também nessa fase, aprendemos com nossos pais e cuidadores como lidar com essa emoção. Um passo importantíssimo para lidar melhor com a raiva é assumir a responsabilidade por si mesmo. Ou seja: em vez de apontar nos outros o que desencadeou sua raiva, em vez de devolver na mesma moeda, e em vez de descontar ou se anular, você deve ter em mente que é o único responsável por essa emoção negativa. É impossível controlar o que vão lhe fazer ou dizer, mas é totalmente e completamente possível assumir as rédeas de como você vai lidar com o que fizeram ou disseram. Isso é o que chamo de Autoliderança. Ser líder de si mesmo trará a você uma série de benefícios, inclusive a capacidade de administrar a sua raiva. Se compreender, profundamente, que seus padrões de comportamento são seus e podem ser modificados da maneira como lhe parecer mais apropriado, você, enfim, estará livre dos aprendizados da infância.
O medo muitas vezes nos faz paralisar. Qual o sentimento oposto ao medo?
Por mais estranho que possa parecer, o amor é o sentimento oposto ao medo. O medo compõe nossa humanidade, faz parte da gente e existe, inclusive, para que possamos nos proteger de eventuais males. Por isso mesmo, a maior prova de coragem que você pode demonstrar para si mesmo é assumi-lo e acolhê-lo. E isso se dá pelo autoconhecimento e pelo amor-próprio.
Qual o papel que a motivação tem para a mudança de padrões — mais positivos — de comportamento nas pessoas?
A motivação é essencial. Veja que, quando falamos em mudanças de comportamento, estamos propondo a alguém que deixe de fazer algo de determinada forma e comece a fazer de outra. Ou seja: queremos que ela desaprenda algo que aprendeu e executou por toda a vida e substitua por outro tipo de ação. Trata-se, portanto, de um processo que requer paciência, dedicação, persistência. As falhas podem acontecer ao longo do caminho e somente com motivação e positividade nos tornamos capazes de superá-las e seguir em frente na direção que escolhermos.
A infância pode revelar imenso sobre o futuro de uma pessoa. No livro, a Heloísa foca muito esta etapa fundamental e irreversível por qual todos passamos, equiparando-a uma raiz de uma árvore. Que repercussões uma infância traumática pode provocar num adulto?
Na realidade, não é apenas uma infância “traumática” que provoca repercussões na vida adulta. Todas as infâncias provocam. Isso porque é nesta idade que aprendemos os principais valores e comportamentos que nortearão nossa vida e nossas escolhas. Ali, na nossa casa de infância, com nossos pais e familiares, ganhamos as primeiras noções sobre como lidar com nossas emoções, como reagir a elas e como manifestá-las. E, então, levamos esse conteúdo para a vida adulta, muitas vezes de forma inconsciente. Como resultado, tendemos a imitar aquilo que aprendemos ou a fazer exatamente o oposto – quando não reproduzimos ambos os comportamentos. Seja como for, enquanto nao temos consciÊncia desse processo, ele pode eventualmente nos trazer prejuízos.
Fazendo uso da sua experiência de mais de trinta anos dedicando-se ao estudo e ao trabalho com o comportamento humano, quais são as coisas que mais deixam as pessoas infelizes na vida?
Há diversos acontecimentos e situações que causam infelicidade, mas, de qualquer forma, o que tende a abalar profundamente o ser humano é a generalização da tristeza e das emoções negativas. A verdade é que sempre vão existir fatores e acontecimentos capazes de desencadear, na gente, a sensação de pesar, luto, dissabor ou depressão. Esses sentimentos fazem parte da vida, são justos e, quando surgem, precisam e merecem ser vivenciados. Ainda assim, é importante dizer que a tristeza não é um impeditivo da felicidade. Sim, porque, afinal, a felicidade é um estado ligado à sensação interna de bem-estar profundo. E mesmo que você se sinta triste por um determinado momento ou período de tempo, o bem-estar interno consolidado e conquistado vai lhe mostrar que um pedaço seu está triste – não você inteiro – e que está tudo bem se sentir assim. E essa é a verdadeira questão sobre a tristeza: ela não pode e sequer deve ser evitada; pelo contrário, ela merece ter seu espaço para que nós, os seus “detentores”, tenhamos a chance de aprender com ela.
E a transbordar de felicidade, o que mais pode potenciar esse sentimento?
Creio que a prática constante e diária do amor-próprio é o que potencializa a felicidade. Como disse, a alegria deve se fazer presente ao longo da nossa trajetória e não somente no fim do caminho. Para que isso aconteça, é importante que cada pessoa traga e promova, para si mesma, breves momentos de prazer diários. Fazer algo que gosta e desfrutar desse sentimento é imprescindível para que a felicidade se dê.
Como é que se treina o pensamento positivo?
Se você deseja colocar a positividade em prática, é necessário, antes, que reveja a forma como tem se posicionado diante das situações. A auto-observação constante, certamente, lhe colocará na direção certa e mostrará em que pontos precisa melhorar e em que pontos já está efetivamente comprometido com sua própria felicidade e bem-estar. Ser positivo é receber o que a vida lhe traz, quando ela lhe traz. Apareceu um amor? Ame, mas ame do fundo do seu coração (se ficar com o pé atrás e com medo de ser traído ou abandonado, não haverá entrega). Se houver uma perda, chore e chore muito, porque perder é doloroso e triste. O choro é a melhor expressão desse sentimento, além de ser justo. Ser positivo é respeitar o seu corpo e lhe oferecer o que é útil, saudável e gostoso. É saber que nosso jeito de ser talvez agrade a uns e desagrade a outros e... Tudo bem! É nosso jeito de ser. Ser positivo é assumir a responsabilidade pelo seu comportamento.
O Mapa da Felicidade está escrito num tom pessoal, onde a Heloísa conta várias vicissitudes e dissabores por que já passou, como por exemplo quando lhe foi diagnosticado um cancro. A escolha de uma escrita íntima, menos formal, mais receptiva para quem lê, foi um acto deliberado ou é mesmo a sua maneira de comunicar que é assim, sem entraves?
A minha escolha por essa linguagem foi, na verdade, muito natural e diria até óbvia. Como especialista em desenvolvimento humano, percebi que, quando falo de mim mesma, conquisto mais empatia e demonstro exatamente aquilo que espero demonstrar: assim como todos os seres humanos, sou uma pessoa suscetível a erros e acertos, busco aprimorar a mim continuadamente e transformar positivamente meu entorno. Essa linguagem me aproxima mais do público com quem falo.
Como correu o lançamento do seu livro em Lisboa, no dia 17 deste mês?
Foi uma emoção estar em Portugal, tenho minhas raízes aqui, e a Editora O Castor de Papel fez um trabalho muito profisisonal e bonito aqui, isso, certamente, se refletiu na forma como todos me receberam, com muito acolhimento e carinho.
É a primeira vez que visita Portugal? O que acha do povo português?
Sim, é a primeira vez que venho à Portugal e tenho a alegria de um sonho realizado. Meu pai era português e os portugueses me são familiares graças aos meus avós e suas histórias. Fui muito bem recebida e as pessoas, como no Brasil, estão interessadas em buscar a felicidade. Já estamos em nossa segunda edição do livro e esse sucesso me mostra que somos todos iguais na essência, o que nos diferencia é a cultura, mas no desejo todos queremos ser feliz.
Na sua opinião, e falando na generalidade, os brasileiros têm coragem para sair das suas zonas de conforto e dar o passo rumo ao desconhecido?
Na verdade, todos os povos têm essa coragem, respeitando as diferenças de culturas e histórias. Vemos dia a dia pessoas que se movimentam ao redor do mundo em busca de promover transformações. Somos uma nação mais jovem se comparada aos países Europeus, e já vivenciamos muitas mudanças em diversos aaspectos, desde políticos, sociais, educacionais etc., instabilidades e dificuldades que ajudaram e ajudam o povo a adquirir, como dizemos aqui maior ‘jogo de cintura’ e abertura para sair da zona de conforto.
No final da década de 1960, Bob Holfman desenvolveu um método revolucionário de autoconhecimento que distinguia uma multiplicidade de “seres”. Quem foi este homem e que papel ele e a sua filosofia tiveram para a vida da Heloísa?
Bob Hoffman foi um autodidata com profundo conhecimento da natureza humana que, mais tarde, obteve sua sabedoria reconhecida por diversas escolas como a psiquiatria, a psicologia, a neurologia, a pedagogia e a filosofia. Hoffman estruturou a metodologia combinando diversas técnicas e ferramentas, com o objetivo de despertar a grande fonte de amor que cada um tem dentro de si. Ele estabeleceu como bases do curso a teoria da "Sindrome do Amor Negativo" e o modelo da "Quadrinidade", que reúne os quatro aspectos do "Ser": Emocional, Intelectual, Intuitivo ou Espiritual (sem nenhuma conotação religiosa) e Corporal. Quando realizei o Processo Hoffman pela primeira vez, tive a plena convicção do quanto o trabalho desenvolvido por Bob era valioso. Foi assim que comecei a mudar minha vida e decidi que trabalharia com este treinamento.
Dos “seres” ou inteligências intelectual, emocional, espiritual e corporal, qual é a mais fundamental para o ser humano?
Todas são igualmente importantes. Estamos mais habituados, ainda, a valorizar a inteligência intelectual em detrimento às outras. Porém, o equilíbrio entre elas é o que gera bem-estar, felicidade, plenitude, entre tantas outras emoções positivas.
Qual é o principal objetivo do Processo Hoffman, o curso intensivo de autoconhecimento e reeducação emocional que a Heloísa ministra em São Paulo?
O Processo Hoffman leva a pessoa a ter uma melhor percepção sobre si mesma, a entender melhor o outro, bem como o universo que a cerca. Auxilia o aluno a perceber padrões negativos e, muitas vezes, inconscientes, que o prejudicam e o impedem de construir uma vida plena e sem culpa. Em consequência, seu autoequilíbrio é restabelecido e fortalecido, o que lhe permite adquirir o controle sobre comportamentos indesejáveis e domínio sobre as suas próprias emoções, aprendendo a vivê-las e expressá-las de forma adequada. O aluno passa a ter consciência da própria liberdade de escolha, da responsabilidade sobre seus atos e a encarar os problemas como estímulos e não como obstáculos.
Actualmente, o Processo Hoffman está vigente em 14 países, incluindo Espanha, França e Itália. Em Portugal este curso, que faz romper com aquilo que impede as pessoas de alcançarem o seu crescimento, não tem nenhum facilitador/coach com formação para administrá-lo?
O Processo Hoffman é ministrado com autorização do Instituto Hoffman Internacional, que cooordena a licença para aplicação do mesmo. Estamos muito empolgados em realizar uma parceria que viabilize este caminho e espero, em breve, ter novidades ao povo Português, que é nosso irmão, para que o Centro Hoffman possa colaborar na formação de facilitadores e na aplicação do curso aqui.
Em Agosto, será uma das palestrantes no ENACHOACHING, que reunirá os maiores nomes doCoaching no Brasil. Quais as suas expectativas para este evento?
São as melhores possíveis! O trabalho de coaching se torna cada vez mais importante em todo o mundo. Por isso, participar de um evento como este me enche de satisfação.
Quais são os seus gurus motivacionais ou autores brasileiros ou internacionais, que mais a inspiram?
Nossa, tenho muitos! Adoro ler e participar de cursos, estou sempre em busca de novas sabedorioas e conhecimentos, mas destaco dois aqui, o próprio Roberto Shinyashiki e o Deepak Chopra.
Qual ou quais os livros (de ficção ou não-ficção) que mais a marcaram?
Certamente, um deles é A Escola dos Deuses, de Stefano Elio D’Anna.
Podemos contar com um novo livro seu para quando?
Se tudo correr bem, acredito que no final do próximo ano já esteja com a nova obra muito bem encaminhada!
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